Dolutegravir pode aumentar o índice de massa corporal de pessoas em terapia antirretroviral?

No dia 9 de outubro de 2020, ocorreu a defesa da dissertação de mestrado do farmacêutico Cléssius Ribeiro de Souza, pelo Programa de Pós-graduação em Medicamentos e Assistência Farmacêutica (PPGMAF).

A dissertação, intitulada “ALTERAÇÃO NO ÍNDICE DE MASSA CORPÓREA: UM ESTUDO DE COORTE EM INDIVÍDUOS EM USO DE DOLUTEGRAVIR ATENDIDOS EM UM SERVIÇO ESPECIALIZADO DE BELO HORIZONTE”, levantou discussões importantes sobre o uso de medicamentos para o tratamento da infecção pelo HIV e alterações do peso corporal, trazendo contribuições relevantes para a área.

Atualmente, Cléssius já é doutorando do mesmo programa e integrante do Projeto ECOART, que estuda a efetividade da terapia antirretroviral em pessoas vivendo com HIV, HIV/Tuberculose, HIV/Hanseníase e HIV/Leishmaniose, no Brasil.

Em entrevista ao Pensando Nisso, Cléssius nos fala, resumidamente, sobre o conteúdo da dissertação.

 

Pensando Nisso: Cléssius, você poderia nos contar um pouco sobre o tema de sua dissertação?

Cléssius: O excesso de peso é um fator de risco conhecido para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e diabetes mellitus na população em geral e uma preocupação crescente entre as pessoas vivendo com HIV. Alguns medicamentos utilizados para o tratamento da infecção pelo HIV podem causar o aumento de peso de forma excessiva, podendo inclusive promover obesidade em alguns indivíduos. Um desses medicamentos é o dolutegravir (DTG), que faz parte da primeira linha de medicamentos para o tratamento da infecção pelo HIV e que passou a ser dispensado pelo SUS, em todo o Brasil, a partir de fevereiro 2017.

O objetivo ao realizar o estudo foi avaliar, em um período de dois anos, as alterações no peso, por meio do índice de massa corporal (IMC), entre pessoas vivendo com HIV após o início ou após modificação da terapia antirretroviral (TARV) para regime terapêutico com DTG. Foram incluídos nesse estudo todos os indivíduos cadastrados para o atendimento em uma unidade de serviço referência no tratamento de pessoas vivendo com HIV de Belo Horizonte, com 18 anos ou mais de idade.

 

Pensando Nisso: E quais foram os principais resultados da pesquisa?

Cléssius: Verificamos que os indivíduos que iniciaram a TARV com DTG apresentaram aumento no IMC significativamente maior em relação aos indivíduos passaram a utilizar o DTG após a troca dos antirretrovirais. Também verificamos que os indivíduos imunossuprimidos, ou seja, que estavam com sistema de defesa do organismo debilitado pela ação do HIV, após o uso do DTG, tiveram um aumento maior no IMC quando comparados com os não imunossuprimidos.

Os resultados sugerem que o uso de DTG está relacionado ao ganho de peso em ambos os grupos que iniciaram ou que fizeram a troca para DTG. Para os indivíduos que fizeram a troca da TARV o aumento foi atenuado. Para os indivíduos que iniciaram a TARV com DTG, o ganho de peso foi significativamente maior, o que pode indicar mais facilidade para o desenvolvimento de comorbidades como a obesidade.

 

Pensando Nisso: Em que esses resultados impactam na vida das pessoas que vivem com HIV e estão em terapia antirretroviral com o Dolutegravir? E quais são os impactos para a prática clínica e para os serviços de saúde?

 

Cléssius: Esses resultados evidenciam a importância da orientação de todo o corpo clínico no atendimento às pessoas vivendo com HIV relacionados às possíveis alterações na massa corporal as quais podem desenvolver outras comorbidades, principalmente a obesidade. Indivíduos que ao iniciarem a TARV com DTG já estejam com sobrepeso ou obeso necessitam de uma abordagem e acompanhamento diferenciados para mitigar o possível aumento no peso e o desenvolvimento de outras comorbidades relacionadas a obesidade. A abordagem nos casos de sobrepeso e obesidade devem incentivar a educação alimentar que vise a perda de peso, por meio de escolhas alimentares adequadas e saudáveis, redução de fatores de risco cardiovasculares associados à obesidade (hipertensão arterial, dislipidemia, pré-diabetes ou diabetes mellitus), indução de melhora da autoestima, aumento da capacidade funcional e da qualidade de vida.

 

Pensando Nisso: Quais seriam os próximos passos possíveis para este estudo?

Cléssius: Ademais, para futuras análises seria recomendável fazer uso de outros indicadores clínicos e bioquímicos como risco cardiovascular, depressão e níveis de colesterol, além de um acompanhamento envolvendo a alimentação e as atividades físicas para minimização de possíveis interferência desses fatores nos resultados de alteração do IMC com o uso do DTG.

 

Em breve, a dissertação estará disponível para acesso, sob domínio público, por meio do repositório da UFMG.


Texto produzido por: Mariana Dias Lula, graduanda em Farmácia, Faculdade de Farmácia da UFMG e Cléssius Ribeiro de Souza, doutorando do Programa de Pós-graduação em Medicamentos e Assistência Farmacêutica, Faculdade de Farmácia da UFMG.  

Revisão: Profa. Maria das Graças Braga Ceccato

Edição e postagem: Mariana Dias Lula 

Rolar para cima