Inclusão dos análogos de insulina rápida no SUS

O Secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde – (SCTIE/MS) acatou a recomendação da CONITEC favorável a incorporação das insulinas análogas de ação rápida no SUS para tratamento do Diabetes mellitus tipo 1(DM1). ¹

Inicialmente os membros do Plenário da CONITEC recomendaram que a matéria fosse enviada para Consulta Pública com manifestação preliminar contrária à incorporação dos análogos de ação rápida(lispro, asparte e glulisina). Os argumentos contrários estavam pautados em estudos disponíveis que não comprovaram superioridade das insulinas análogas em relação à insulina humana regular em desfechos de eficácia e segurança e assim não seria custo- efetivo incorporá-las com preços de mercado.² Após a Consulta, o CONITEC emitiu novo parecer, agora favorável à incorporação da tecnologia no SUS.

Na Consulta Pública, foram recebidas contribuições técnico-científicas e também opinião de pacientes, familiares, profissionais de saúde e pessoas interessadas no tema. Os principais argumentos favoráveis a incorporação dos análogos ultrarrápidos eram relacionadas à possibilidade de maior flexibilidade alimentar, maleabilidade do tratamento, previsibilidade dos resultados, praticidade, facilidade de uso, acomodação, transporte, maior estabilidade, melhor ajuste de dose e maior adesão quando comparadas com a insulina regular.²

Algumas secretarias de Saúde já disponibilizam as insulinas ultrarrápidas, como é o caso da SMSA – BH. No entanto, para ter acesso é necessário que o usuário faça parte dos critérios de inclusão.³ Após a publicação no Diário Oficial da União em 21/02/2017, o Sistema Único de Saúde terá 180 dias para disponibilizar  insulina análoga de ação rápida para o tratamento do Diabetes mellitus tipo 1, mediante negociação de preço e conforme protocolo estabelecido pelo Ministério da Saúde, no âmbito do Sistema Único de Saúde – SUS.4

O que são as insulinas ultrarrápidas?

As insulinas ultrarrápidas, são análogos da insulina rápida(regular), desenvolvidos por meio de técnicas de DNA recombinante, com o intuito de tornar o perfil dessas insulinas próximo ao fisiológico na melhora do controle glicêmico (B). Atualmente há três insulinas ultrarrápidas disponíveis no mercado: lispro, asparte e glulisina. Em todas elas houve uma troca de aminoácidos específicos na cadeia, com o intuito de alterar sua conformação e acelerar sua absorção quando comparado com a insulina regular.5

Insulina

Quem pode se beneficiar desses análogos?

Os análogos de insulina rápida, podem ser indicados aos pacientes que apresentam tendência a ter hipoglicemias nos períodos pós-prandiais tardios e noturnos com o uso da insulina regular.6 Pacientes que utilizam a insulina regular após o jantar, estão sujeitos a ação dessa insulina por até 6 horas, o que pode ocasionar hipoglicemia noturna. Em contrapartida, as insulinas ultrarrápidas podem ser mais seguras nesse horário por possuírem ação mais curta e dessa maneira, oferecem menor risco de hipoglicemia durante a madrugada.

As insulinas ultrarrápidas também podem facilitar a adesão à insulinoterapia, já que o início de ação da insulina regular demora cerca de 30 minutos, sendo necessário que o paciente sempre programe suas refeições e aplique a insulina 30 minutos antes de se alimentar. Por causa da dificuldade de programação, muitos pacientes tendem a aplicar a insulina regular no momento da refeição, o que contribui para ocasionar hiperglicemia pós-prandial e hipoglicemia tardia após as refeições. Isso ocorre porque a insulina regular atingirá seu pico de ação quando o alimento já tiver sido metabolizado. 5 Por outro lado, as insulinas ultrarrápidas podem ser usadas logo após o término da refeição, com eficácia comparável a insulina regular antes das refeições. Assim, o paciente em uso desses análogos consegue ter maior flexibilização na hora de se alimentar, o que é importante principalmente entre as crianças pequenas, que muitas vezes não ingerem a quantidade total de carboidratos que estava programado para aquela refeição. Essa negativa poderia causar hipoglicemias caso a insulina regular fosse utilizada.5

A farmacocinética da insulinas ultrarrápidas ainda facilita a aplicação da estratégia de contagem de carboidratos. Essa estratégia já é recomendada pelas Sociedades Científicas no Brasil e no mundo há mais de 20 anos e se diferencia das demais, por permitir que o paciente tenha um leque de ofertas alimentares e adeque o bolus de insulina a ser aplicado a partir da quantidade de carboidrato presente em cada refeição. Em muitos casos, torna-se difícil programar com 30 minutos de antecedência exatamente quais alimentos e qual a quantidade de carboidrato será consumido. Desse modo, a contagem de carboidratos utilizando bolus da insulina regular é pouco viável.7

Por fim, torna-se imprescindível mencionar que a terapia insulínica deve ser individualizada, de acordo com o estilo de vida do paciente, idade, comorbidades, habilidades e capacidade cognitiva. Independentemente da insulina a ser escolhida, é fundamental que o paciente compreenda a importância da terapia, e esteja ativamente envolvido no manejo do diabetes, pois sua participação é parte essencial do tratamento.

Referências:

  1. Insulina análoga para tratamento do Diabetes mellitus tipo 1 é incorporado ao SUS. 2017.
  2. RELATÓRIO DE RECOMENDAÇÃO – CONITEC: Insulinas análogas de ação rápida para Diabetes Mellitus Tipo 1. Brasil: Ministério da Saúde, v. 245, fev. 2017.
  3. DISPENSAÇÃO DE ANÁLOGO DE INSULINA DE AÇÃO ULTRARRÁPIDA. Belo Horizonte: Prefeitura de Belo Horizonte – Pbh, 2016.
  4. Portaria nº 10, de 21 de fevereiro de 2017.Torna pública a decisão de incorporar insulina análoga de ação rápida para o tratamento da Diabetes Mellitus Tipo 1, no âmbito do Sistema Único de Saúde SUS. Diário Oficial, Brasília, DF, 22 fev. 2017. Seção 1, p. 50.
  5. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes (2015-2016) / Adolfo Milech…[et. al.]; organização José Egidio Paulo de Oliveira, Sérgio Vencio – São Paulo: A.C. Farmacêutica, 2016.
  6. Sociedade Brasileira de Diabetes. Posicionamentos Oficiais da Sociedade Brasileira de Diabetes. Indicação de análogos de insulina de ação rápida e prolongada e de insulina inalável no diabetes tipo1 e tipo 2. Rev Bras Med. 2006; 2(Suppl).
  7. Manual de Contagem de Carboidratos para pessoas com diabetes. Sociedade Brasileira de Diabetes. 2016.

 

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